::.. CARNAVAL 2022 - G.R.C.E.S. CACIQUE DO PARQUE................................
FICHA TÉCNICA
Data:  24/04/2022
Ordem de entrada:  8
Enredo:  A periferia poética de Sérgio Vaz
Carnavalesco:  Bruno Laurato
Grupo:  4
Classificação:  10º
Pontuação Total:  157,8
Nº de Componentes:  não consta
Nº de Alegorias :  ,
Nº de Alas :  não consta
Presidente:  Antonio Junqueira - "Tonhão"
Diretor de Carnaval:  não consta
Diretoria de Harmonia:  não consta
Mestre de Bateria:  não consta
Intérprete:  não consta
Coreógrafo da Comissão de Frente:  não consta
Rainha de Bateria:  não consta
Mestre-Sala:  Rud Gonçalves
Porta-bandeira:  Thatyana Bonilha
SAMBA-DE-ENREDO
VERSÃO ESTÚDIO

Nova pagina 2
COMPOSITOR: Raphael Fernandes Masilonis "Rapha"


Caciqueando em poesia
em meio a "Flores de Alvenaria"
A inspiração...
Eis o alquimista de pés no chão
entre becos e vielas
o moleque sonha em ser herói da favela

o céu que emoldura
sua volta no mundo da literatura


O sol a brilhar
reluzir em seu peito
um QUARTO, um DESPEJO... a  solidão
vai na fé, meu nobre guerreiro
a força está no coração


Mesmo amador
nosso pivete nunca desistiu
se apaixonou...
Entre andanças, um sonho vadio
fazer da arte, realidade
contra toda desigualdade
banquete de felicidade
memórias que desses becos irradia
a real negra magia
és orgulho da Periferia

Vai ecoar o meu canto de paz
vem meu parque Santo Antônio
exaltando Sergio Vaz.

 

SINOPSE DO ENREDO
O Grêmio Recreativo
Autor: Bruno Laurato

"O Sarau da Cooperifa é quando a literatura desce do pedestal e beija os pés da comunidade."
 
Ao contrário do que a obra imortalizada conta, o alquimista em questão não frequenta os vales de Andaluzia, na Espanha. Ele anda aqui mesmo. Aqui na quebrada, no Parque Santo Antônio, de pé no chão entre flores de alvenaria, e ruas mal pavimentadas que, como um fio de lá, costuram toda a periferia da Zona Sul de São Paulo. Nosso alquimista não é um pastor de ovelhas. Ele quer é jogar bola na várzea e ganhar o mundo todinho, reconhecido como craque, como a maioria dos meninos daqui.
 
Ao contrário também do alquimista do autor, o nosso não está dentro da literatura. A literatura é que está dentro dele. E, para ele, esse sim é o tesouro maior. Ele identificou isso desde pequeno, nos primeiros anos de um regime indigesto que o país passava, quando, de sílaba em sílaba, ele viajou o mundo todo através de páginas. No começo, doces fábulas, mais pra frente, os mais complexos livros que o chegavam a questionar se “Eram deuses os astronautas?”.
 
O alquimista daqui não só foi ao Inferno com Dante, mas também se encontrou nele, ao compreender que a arte pela qual ele, sempre amador, se apaixonou, não tinha muito espaço para quem nasceu onde ele nasceu. Ainda menino, o alquimista entendeu que para ele, e todos os outros que ali moravam, a arte lhe era negada, esquecida, pouco falada. Era "coisa de fresco". E ele queria o além, queria mais, muito mais do que o ensino público poderia oferecer, queria Literatura, pão e poesia.
 
Neste cenário, ele não teve muita escolha. Indignado como Henfil, recolheu tudo o que lhe era de direito e lhe cabia dentro do seu quarto de despejo, pôs a perna no mundo e partiu com Um sol lindo lá fora, outro dentro do peito. Taí. a semelhança entre os dois alquimistas. Eles precisavam ir atrás do tesouro. Eles precisavam ir atrás do chamado que o pulsava, agarrando o sonho que o tinha escolhido. O nosso, inspirado pelas andanças corajosas de Dom Quixote, se jogou na rua, sem Dulcineia, Sancho Pança e nem um Rocinante que lhe carregue, mas como um cavalheiro, enfrentou todos os seus moinhos.
 
Já rapaz e longe do lugar que lhe pariu, entre andanças e pensamentos vadios, ele encontrou o que fazia seus olhos brilharem. A arte caminhava livre pelas grandes avenidas centrais. Eram devaneios sob telas, encantos teatrais e música para os ouvidos dele. Elitizada, a arte tomava um táxi no Bixiga, entre o Vai-Vai e o bloco dos esfarrapados, e ia em direção à Consolação, passando por todos os elegantes bairros que, como um mosaico, montam o grandioso centro paulistano.
 
Lá, a arte corria nua pelas ruas e bares. Ela ria alto e dançava ao léu com os boêmios até o alvorecer. E não parecia, nem de longe, que ela teria tempo de prolongar o passeio até os bairros mais afastados, que estão à margem do que é considerado cartão postal na capital. Ela não queria vir? Nós não queríamos que ela viesse ou não deixavam ela se aproximar?
 
Na mesma medida em que se encantou com aquilo tudo, o alquimista também se enfureceu. Cada qual com sua poesia, cada qual com sua fúria. Era discrepante que àquela mesma arte que neste endereço fazia festa até altas horas, em poucos quilômetros de lá, não dava as caras. A arte não tomava ônibus? Ela não calçava sapatos para andar no chão de terra? Ela não tinha interesse em conhecer os vizinhos, as mães, as Marias e, melhor, o charme que tem as Ediths? Ela não poderia acompanhar uma pelada na várzea? "Vem cá, dona arte, qual é a sua?", questionou o alquimista armado com um lápis.
 
Mesmo sob a ira que a compreensão da desigualdade tivera lhe causado, o alquimista flertou com a arte, bebeu com ela e lhe beijou a boca. Ele tinha fome daquilo tudo e, por isso, a devorou como num banquete que, ora lhe dava prazer, ora lhe causava a indigestão por tanto conhecimento - mas nada que dois goles de cerveja não resolva. Como num movimento antropofágico, ele decidiu mastigá-la, saborear a arte e engolir. Em seguida, vomitar tudo aquilo no lugar onde ele nasceu. Assim, todos conheceriam, entenderiam, e, enfim, compreenderiam o que ele falava tanto.
 
Na volta do centro, não é possível identificar quem estava mais cheio: a barriga do alquimista ou o 5318-10 (ônibus) que lhe trazia. Mas ele estava saciado. Ele volta repleto de tudo aquilo que viveu por lá. Aqui, foi colocando em prática, tudo o que aprendeu, numa verdadeira antropofagia periférica. Dia a dia, semana a semana - muito mais que 22, em galpões abandonados, entre becos da memória sem iluminação e botequins mal frequentados. Até chegar naquele lugar que foi a sua primeira senzala, que ele fez questão de transformar em quilombo.
 
O alquimista, portanto, rodou todos os lugares na busca do seu tesouro. Colecionou pedras, histórias, sonhos, angústias, superações e resistências. Na volta, viu que o tesouro estava lá e sempre esteve. Entre ônibus lotados e tênis sob fios, entre muros pichados e partidas de várzea. Entre Capão Redondo e Parque Santo Antônio, entre saraus e batucadas, entre RAP e Samba, entre terças e quartas.
 
Na quebrada, ao lado de valiosos parceiros, ajudou a transformar o cenário caótico, fazendo o povo acreditar que o sol é para todos e a arte também. Nas terças, no alto do Jardim Guarujá, é possível ouvir de longe vozes de resistência que declamam versos. São vozes pretas, vozes de mulheres, professoras, empregadas domésticas e tantas outras. São vozes acostumadas a serem silenciadas todos os dias, mas não lá. Lá, o silêncio é uma prece para que essas vozes sejam destaques.
 
Lá também é comum ver balões no céu levando poesia para outros costados, cinemas que flutuam, tempestade de livros. Lá dá pra ver a autoestima do autor independente crescer, lá se vê os blacks florescerem, a magia negra acontecer, a resistência se impor e o local de fala se fazer presente, rompendo qualquer "sistema" que insiste, sem sucesso, ofuscar o brilho que a cerimônia apresenta.
 
O alquimista possibilitou tantos encontros no seu lugar que a arte, que outrora só era vista nas grandes galerias, começou a também correr livre pelos becos, conquistando novos bares, espaços, galpões e escolas - de samba. Tanto que hoje, dentro da maior manifestação de cultura popular brasileira, que é o cortejo de uma escola de samba, ele é o tema principal.
 
Sérgio Vaz, que é poeta, pai, marido, boêmio e sonhador. O seu tesouro é o Sarau da Cooperifa, que há mais de duas décadas faz com que a "literatura desça do pedestal e beije os pés da comunidade" da Zona Sul de São Paulo. Nós, do Cacique do Parque Santo Antônio, que estamos fincados onde toda essa história aconteceu, assumimos o local de fala que nos pertence para contar e cantar a história do "pivete" que, assim como nós, sabe as dores e delícias de estimular cultura na periferia.
 
Viva a Literatura! Viva a arte periférica!
 
"A poesia é uma arma de ataque e defesa"
Sérgio Vaz
 
Referências:
 
"O alquimista" - livro o alquimista, autor Paulo Coelho;
→ "flores de alvenaria" - Livro Flores de Alvenaria, autor Sérgio Vaz, ano 2016;
→ "regime indigesto" - Sérgio Vaz nasceu em 1964, ano em que foi instaurado o regime militar no Brasil;
"Eram deuses os astronautas?" - Livro Eram deuses os astronautas, autor Erich von Däniken, ano 1968 (um dos livros lidos por Sérgio Vaz na juventude);
"Inferno" O Inferno é a primeira parte da "Divina Comédia", romance do autor Dante Alighieri, publicado em 1472 (um dos livros lidos por Sérgio Vaz na juventude)
→ "amador"- Referência a um poema de Sérgio Vaz
"Dom Quixote"- Livro Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. ano 1605. (um dos livros lidos por Sérgio Vaz na juventude);
"Literatura, pão e poesia" livro do Sérgio Vaz publicado em 2011;
"quarto de despejo" Livro de Carolina Maria de Jesus, lançado em 1960 (um dos livros lidos por Sérgio Vaz na juventude)
"Um sol lindo lá fora, outro dentro do peito" Referência a um poema de Sérgio Vaz
"agarrando o sonho" Livro "Agarrando o sonho: tudo na vida começa como um sonho", de Sérgio Vaz, lançado em 2006;
"pensamentos vadios" livro "Pensamentos Vadios" de Sérgio Vaz, lançado em 1999;
"Cada qual com sua poesia, cada qual com sua fúria" Referência a um poema de Sérgio Vaz; "Ediths"-Personagem de destaque nas noites de sarau;
"banquete" livro O Banquete, de Platão;
"movimento antropofágico" O movimento antropofágico foi uma manifestação artística brasileira da década de 1920, fundada e teorizada pelo poeta paulista Oswald de Andrade e a pintora Tarsila do Amaral;
"antropofagia periférica" livro "antropofagia periférica" de Sérgio Vaz, lançado em 2008; "22"-Referência à semana de arte ocorrida em 1922 em São Paulo;
"becos da memória" - livro "Becos da Memória" de Conceição Evaristo, lançado em 2006;
"Colecionou pedras" - livro "O colecionador de Pedras" de Sérgio Vaz, lançado em 2007; "sol é para todos" livro "O sol é para todos" de Harper Lee, lançado em 1960; o silêncio é uma prece" Palavra de ordem utilizada durante as cerimônias de Sarau; "magia negra" Referência a um poema "Magia Negra", de Sérgio Vaz.

 

FANTASIAS


No h contedo para este opo.



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