DEFESA DO TEMA ENREDO
 
O Brasil é reconhecido mundialmente como um dos países mais miscigenados do planeta. Tem a sua maior parte da sua população composta por descendentes de europeus, asiáticos, africanos e indígenas. No entanto, isto não é o suficiente para que o seu povo viva em harmonia com os seus compatriotas.
 
Dentro de um vasto território continental destas terras tropicais, há preconceitos, discriminações raciais e xenofobia velada, que, por conseguinte, geram violência e intimidação; em especial com os nordestinos.
 
Em busca de colaborar na mudança do panorama atual, a Escola de Samba Em Cima Da Hora Paulistana, defenderá o respeito que todos os cidadãos brasileiros merecem, e em especial os nordestinos a quem optamos por retratar ante tamanhas manifestações negativas contra estas pessoas.
 
Para tanto, mostraremos em nosso desfile oficial que o povo nordestino contribui com a cultura do Brasil, em diversas das vertentes.
 
Sabemos que nosso intento possa soar como um pequeno grão de areia num vasto oceano, porém, como entidade da sociedade civil, devidamente constituída, e, defensora da cultura popular brasileira, fundada com o intuito de unir a defesa a cultura popular a atividades socioculturais a famílias carentes, temos a obrigação social de levar aos nossos pares e ao público presente durante ao desfile, o grito de defesa de nossos irmãos nordestinos.
 
Se, atingirmos apenas um xenófobo com o nosso canto e, este repensar as suas atitudes consideraremos um grande passo em nosso intento.
 
A Em Cima Da Hora Paulistana, a pioneira, a primeira escola de samba da Capela do Socorro/Parelheiros, vem através do chirriar da coruja (o nosso símbolo), cantar bem alto: "SOU NORDESTINO, SIM, SENHOR... OXENTE, CABRA, EU TENHO CULTURA!"
 
Baseada na sua missão cultural de trazer temas enredos que contribuíam no pensar de nossa comunidade e o público assistente de nosso desfile, vem novamente a ESCOLA DE SAMBA EM CIMA DA HORA trazer no carnaval 2024 um tema enredo que mistura nosso clamor pelo respeito ao povo nordestino, mas também exalta a vasta e rica cultura desta tão nossa gente.
 
Nossa intenção, ao trazer este tema enredo não está em vitimizar o povo nordestino ou ainda, como está na moda dizer, aceitar que é "mi mi mi", gritar contra o preconceito xenofóbico contra está linda gente.
 
Pode parecer um assunto já muito discutido e até já realizado como tema enredo em outras coirmãs, talvez não com a enfática que levaremos, mas de algum modo também contribuindo para que falando sobre o assunto, ajudemos as pessoas de bem a pensarem e pensando irão perceber que o nordestino é tão cidadão brasileiro, quanto qualquer outro de qualquer outra região.
 
E como está em parte da letra de nosso samba enredo 2024, fica nosso convite:
 
"Em Cima da Hora, De zambumba e viola
Vou nesse samba arretado para danar"

JUSTIFICATIVA DO TEMA ENREDO
 
Tomada pela missão de trazer temas que contribuam com o pensar cultural de nossa comunidade e ao público que assiste ao nosso desfile, a Escola De Samba Em Cima Da Hora Paulistana traz para o carnaval 2024 como tema de enredo o clamor pelo respeito ao povo nordestino bem como exaltar a rica cultura desta gente "tão nossa".
 
A intenção não é vitimizar o povo nordestino ou, ainda, como está em moda dizer, promover "mi mi mi".
 
Intencionamos pautar o olhar contra o preconceito e atos xenofóbicos contra está linda gente.
 
O assunto pode parecer muito discutido e já realizados por outras coirmãs, talvez, não com a ótica que pretendemos levar; mas, com o máximo de certeza, contribuindo ainda mais para a aceitação das diferenças e a promoção do respeito, dando luz ao assunto.
 
Esperamos ajudar as pessoas de bem na construção do pensamento de quão o nordestino é tão brasileiro, verdadeiro cidadão quanto outro de outras regiões deste imenso Brasil.
 
Que o nosso canto harmônico e nosso desfile seja um brado de "basta" a intolerância e a xenofobia no Brasil onde irmãos se julgam melhores que o outro, apenas porque são de regiões geográficas pensadas por eles, como melhores.
 
SINOPSE OFICIAL
 
Preconceitos e discriminações são produzidos social e historicamente e perpassam os diferentes âmbitos da vida coletiva, estando presentes também no convívio escolar.
 
Apesar de existir um senso comum de que o nosso país é cordial a verdade é oposta: existe muita intolerância em todos os âmbitos sociais e, entre eles, a xenofobia.
 
A xenofobia contra os moradores do nordeste brasileiro aumentou e nos últimos meses tomou conta da mídia com relevância. Falas absurdas e sem contextualização de verdade que os xenofóbicos não fazem questão de esconder os seus pensamentos discriminatórios e repletos de ódio.
 
A xenofobia é um medo incontrolável do desconhecido. Pode ser caracterizada como um preconceito ou como um transtorno psiquiátrico de caráter fóbico conforme aponta o Compendio de Psiquiatria de Kaplan & Sadock (2007).
 
No atual contexto em que foi utilizada aos nordestinos, trata-se de preconceito. Não é difícil encontrar brasileiros que creem piamente que os habitantes do nordeste são considerados erroneamente como uma sub-raça ou, um povo miserável, dado aos aspectos de desinformação sobre aquela cultura.
 
A aversão e a discriminação a pessoas de outras raças, culturas, crenças e grupos é crime previsto na Lei No 9.459/97, que: "enquadra aqueles que possam vir a praticar, induzir, incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Além disso, quem comete xenofobia é passível a reclusão de um a três anos e multa."
 
Dividir o país por cores das pessoas por costumes regionalistas têm levado aos nordestinos o sofrimento na pele por todo tipo de discriminação em qualquer estado que habite.
 
Uma lástima!
 
A generalização/omissão que a nossa mídia faz com o assunto contribui para o agravamento da questão, estimulando de sobremaneira o ódio àqueles que "são diferentes".
 
OXENTE, TENHO CULTURA, VISSE?!
 
A cultura nordestina apresenta características singulares de heranças dadas pelos povos originários, colonizadores e outras "gentes" que aqui vieram por conta ou escravizadas.
 
É importante salientar que a cultura é uma complexa teia em que se inclui: conhecimentos, costumes, artes, crenças, cultos religiosos, literaturas, danças e hábitos de determinados grupos.
 
A cultura da região nordestina compreende aos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia e desenvolveu hábitos próprios em relação às manifestações culturais de outras regiões brasileiras e do mundo. E, isso se permeia através de hábitos transmitidos de geração em geração.
 
As manifestações culturais que mais se destacam na região nordeste do Brasil veremos a seguir.
 
SOU O NORDESTE E MINHA ARTE E MINHA ALMA
 
"Olha pro céu, meu amor
vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo"
(Luiz Gonzaga)
 
E, voa...
 
Vai ao encontro das estrelas que brindam com o luar o céu mais magnífico de nossas vidas. A abóbada ao ar livre que ilustra nosso cenário repleto de bandeirolas coloridas e que recepcionam os casais que vem para as festas "joaninas" que, aqui, chamamos de festa juninas, Santo Antônio, São João e São Pedro abençoem a quadrilha e o nosso forró.
 
E a nossa culinária? Das melhores! De se gabar!
 
Vamos brindá-los com as comidas da temporada: canjica, pamonha, pé-de-moleque, tudo de mandioca, de coco ou mandioca. E as bebidas, ah, as bebidas! Quentões com o delicioso toque de aguardente e gengibre. Bom demais!
 
CULINÁRIA
 
A culinária nordestina foi desenvolvida sob a influência da comida portuguesa, africana e indígena.
 
O consumo de raízes, o preparo de comidas bem temperadas e apimentadas, as comidas de milho e coco, o cuscuz, a pamonha e a canjica são heranças que foram adaptadas em cada estado.
 
São exemplos de raízes: macaxeira, inhame, batata-doce. Quanto às comidas bem temperadas podemos citar: acarajé, vatapá, bobó de poca de camarão, moqueca peixe, sururu.
 
FESTAS RELIGIOSAS CRISTÃS
 
Diversos eventos religiosos fazem parte das manifestações culturais nordestinas.
 
Dentre as festas cristas muito populares no Nordeste, a Romaria de Finados de Juazeiro do Norte, no Ceará, reúne milhares de pessoas. O evento homenageia Padre Cicero, que é considerado um santo popular, sendo carinhosamente chamado de Padim Ciço.
 
A Festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife, é outra manifestação que atrai milhares de fiéis todos os anos, nas missas rezadas nas proximidades do dia da santa, bem como na tradicional procissão em sua devoção.
 
Mas, quando se trata de festa com fé e devoção. Aqui não para não! Seja em romaria para agradecer os milagres ao nosso padre Cicero Romão, o maior de nossa região, seja para agradecer diretamente a Deus.
 
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
 
Entre os cultos africanos trazidos pelos escravos, e enraizados na cultura do Nordeste, destacam-se o candomblé e a umbanda.
 
Seus rituais, hierarquias e cerimônias reverenciam suas divindades.
 
Aqui, honramos o filho do "Homem". Ele mesmo o Grande Criador. Fazemos o Reisado, uma festa católica em que celebramos a visita dos Reis Magos ao menino Jesus logo em suas primeiras horas de vida. Essa festa faz parte da devoção nordestina. Festejamos em muitos estados da nossa região, principalmente nos estados, de Alagoas e Piauí.
 
O nosso Reisado ou, Folia dos Reis, reúne um grupo de foliões trajados com roupas típicas enfeitadas de fitas e espelhos que saem a visitar as casas de pessoas hospitaleiras, dançando e cantando as músicas que louvam os Santos Reis, oferecendo prosperidade aos festeiros.
 
REISADO
 
O Reisado é uma festa católica que celebra a visita dos Reis Magos ao menino Jesus. Essa estados, entre eles Alagoas e Piauí.
 
O Reisado ou Folia dos Reis reúne um grupo de foliões trajados com roupas típicas enfeitadas de fitas e espelhos. Eles visitam as casas das pessoas hospitaleiras, dançando e cantando as músicas típicas da festa.
 
FESTAS JUNINAS
 
As festas juninas, as principais festas representativas da cultura do Nordeste, são comemoradas no mês de junho.
 
São festejadas com danças típicas como a quadrilha e o forró, bandeirolas, balões e fogos de artificio. As festas juninas fazem homenagem aos seguintes santos católicos: Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06).
 
As comidas de milho e de coco são típicas da época. Entre elas a canjica, a pamonha, o bolo de milho e o pé de moleque preparado com massa de mandioca, o milho assado, o milho cozido, o quentão etc.
 
A cidade de Caruaru, estado de Pernambuco, é considerada a capital do forró. cidade de Campina Grande, na Paraíba, é reconhecida por realizar o maior São João do mundo.
 
CAPOEIRA
 
A capoeira é uma manifestação cultural que envolve luta, dança e música. O seu exercício é acompanhado ao som do berimbau, palmas e pessoas cantando.
 
Criada pelos escravos, a capoeira é muito difundida na Bahia e reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade.
 
FREVO
 
O frevo é uma dança típica do carnaval pernambucano. Foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
 
Essa dança se caracteriza pelo ritmo acelerado, onde os passistas realizam passos acrobáticos, levando numa das mãos a típica sombrinha colorida do frevo.
 
LITERATURA DE CORDEL
 
A nomenclatura literatura de Cordel se dá pela forma com que os autores apresentam suas obras ao público: as poesias são impressas e divulgadas em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura, expostas penduradas em cordões ou barbantes, nos locais onde as pessoas circulam.
 
A Literatura de Cordel-gênero literário que recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, no ano de 2018.
 
ARTESANATO
 
O artesanato da Região Nordeste é bastante diversificado. A região produz trabalhos decorativos e utilitários confeccionados em cerâmica, madeira, conchas, rendas, dentre outros materiais.
 
A arte da renda foi trazida pelos portugueses, onde a mulher rendeira é uma personagem típica da cultura do Nordeste.
 
Se Deus e o Diabo moram na Terra do Sol, o nosso Nordeste que tanto acolheu, o valente Lampião, nos proporciona até os dias atuais histórias mirabolantes e pitorescas sobre esta personagem real da cultura nordestina.
 
E a festança não para por aí, não! Aqui nós também festejamos o chamado festival pagão: o carnaval.
 
É um fervo! Ou melhor: o frevo!
 
É a nossa dança típica do carnaval pernambucano. Declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Nem que onde os passistas realizam passos acrobáticos, levando numa das mãos a típica sombrinha colorida. É de tirar o fôlego!
 
"Meu verso rastero, singelo e sem graça
Não entra na praça, no rico salão
Meu verso só entra no campo da roça e dos eitos
E às vezes, recordando feliz mocidade
Canto uma sodade que mora em meu peito"
(O Poeta da Roça-Patativa de Assaré)
 
No Nordeste, nós temos verdadeiros artistas. De poetas à repentistas! De tudo, o que mais se destaca por aqui, é a vivência de nossa gente e a nossa poesia é bruta e na nossa forma de falar. Aqui penduramos aos ventos as palavras em cordas.
 
O mundo conhece a nossa poesia popular come a literatura de cordel. Recitada ou publicada de acordo com nosso estilo em folhetos relata os nossos costumes e as crenças de nosso povo. As personagens podem ser reais ou fictícias. Os nossos repentistas são os "cantadores" que divulgam a poesia popular do nosso Nordeste com maestria. Histórias trançadas e bem amarradas como o nosso artesanato.
 
No Nordeste é tudo muito diversificado. Tão plural quanto a nossa gente. Aqui, se produz traçados de linhas, rendas, palha, sisal ou barro. Trabalhos decorativos e utilitários com a nossa cara e o nosso jeitinho.
 
A criação é vista com muito gosto na cerâmica, madeira ou conchas que banham nosso litoral. Na arte da escultura, Mestre Vitalino foi o maioral.
 
"Dez horas da noite... Na rua deserta
A preta mercando... Parece um lamento
É o abará...Na sua gamela
Tem molho e cheiroso...Pimenta da costa
Tem acarajé...O acarajé é cor
Ô la lá io
Vem benzer
Tá quentinho"
(A Preta do Acarajé - Dorival Caymmi)
 
A nossa culinária é ganhou toques e retoques das comidas lusitanas, africanas e indígena. Consumimos raízes, muitos temperadas como a apimentadas, milho e coco.
 
Olha o cuscuz! Olha a pamonha! Canjica fresquinha!
 
Heranças que outras regiões produzem e adaptam.
 
Aqui, o que não falta é desculpa para se comer. Se tiver uma reunião de pessoas, tudo é motivo, assim como nas tradicionais festas cristãs como: a Romaria de Finados de Juazeiro do Norte (Ceará) que reúne milhares de pessoas para homenagear, como dissemos a priori, o nosso Padre Cícero, o nosso santo popular, carinhosamente chamado de Padim Ciço.
 
Ainda tem a Festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife, que atrai milhares de fiéis todos os anos, nas missas rezadas nas proximidades do dia da santa, bem como na tradicional procissão em sua devoção.
 
Aqui, a nossa devoção é motivo de festar e se tem festa têm fartura!
 
Falando em religião... Não podemos esquecer das Religiões Afro-brasileiras. Os cultos africanos trazidos com os negros se enraizaram por toda a nossa região e fundiu-se com conhecimentos locais como a Jurema Sagrada de cunho indígena e hoje temos, também, o candomblé e a Umbanda que contempla a miscigenação.
 
Falando em herança africana. Temos a Capoeira. A capoeira é uma manifestação cultural que envolve luta, dança e música. O seu exercício é acompanhado ao som do berimbau, palmas e pessoas cantando. Criada pelos escravos, a capoeira é muito difundida na Bahia, e muito nos orgulha. É reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade. Esse meu Nordeste não é de dar orgulho?