| 
		   
		Anastácia, a princesa 
		do reino Bantu, foi trazida junto com outros nativos de vários países do 
		continente africano. Eram pessoas vindas da Guiné, Angola, Congo e, como 
		ela, sequestradas para o trabalho escravo em terras distantes e 
		estranhas. 
		Vendida a nobres 
		portugueses, viveu sua infância prestando serviços como escrava de luxo, 
		ou seja, longe das pesadas tarefas que as plantações impunham, talvez 
		devido a uma característica que a destacava entre outros negros, seus 
		olhos azuis, o que a tornava uma escrava diferente, boa para servir como 
		atração doméstica. 
		Mas sua "sorte" mudou 
		na juventude. A bela escrava negra, agora com um corpo perfeito e um 
		rosto lindo, composto por dentes alvos e uma boca sensual, além dos 
		olhos claros, foi negociada por seus donos, que estavam retornando a 
		Portugal, para um rico proprietário de terras. 
		Levada a uma grande 
		fazenda no Rio de Janeiro, sua vida sofreu uma enorme transformação. De 
		acompanhante de luxo passou a ser escrava de engenho, plantando, 
		cortando, colhendo e carregando a cana para o feitio do cobiçado açúcar. 
		Se antes seus dotes 
		físicos lhe trouxeram algum benefício, agora despertavam a cobiça dos 
		homens, entre eles o feitor de escravos da fazenda. Porém igual ao 
		tamanho da paixão do feitor era a indiferença de Anastácia para com ele, 
		o que causou a ira do amante não correspondido. Mais do que o corpo ele 
		queria o amor verdadeiro de Anastácia. Levado por sentimento de mágoa, o 
		homem a violentou cruelmente num ato de estrema covardia. 
		Como se não bastasse a 
		própria escravidão, e a convivência diária com o feitor, durante a noite 
		recebia a "visita" dos donos de fazenda da região, que a disputavam para 
		satisfazer seus desejos sexuais. 
		Certo dia, lhe veio a 
		vontade de provar um torrão de açúcar, quando foi vista pelo malvado 
		feitor. Este querendo vingar-se colocou-lhe uma mordaça de couro na 
		boca. Na verdade aquilo foi um pretexto para castigar aquela que nunca 
		havia lhe beijado, mesmo na brutalidade dos atos de estupro. 
		Até para um escravo 
		aquilo era um castigo tão infame que chamou atenção inclusive dos donos 
		da fazenda. Infelizmente para ela, isto agravou ainda mais sua situação, 
		pois a esposa do fazendeiro ao invés de apiedar-se, ficou com medo que o 
		marido desviasse seus olhos para a escrava, famosa por sua beleza. Sinhá 
		Moça, como era chamada a vaidosa e ciumenta dona da fazenda, temente por 
		seu casamento, para humilhar ainda mais a escrava que nunca mais poderia 
		mostrar seus lábios, ordenou ao feitor apaixonado que colocasse uma 
		grossa e pesada gargantilha de ferro em volta do pescoço da escrava de 
		olhos azuis, para lembrá-la da sua condição de submissa. Tal objeto, com 
		o passar do tempo causou ferimentos gravíssimos, que infeccionaram até 
		gangrenar e causar-lhe a morte. 
		A notícia da morte 
		trouxe um tardio sentimento de culpa ao feitor e a dona da fazenda. 
		Tentando redimir-se permitiram que o corpo sem vida de Anastácia fosse 
		velado na capela particular dos proprietários das terras. O dono da 
		fazendo, também com remorso por nada ter feito, permitiu que os restos 
		mortais fossem sepultados na Igreja construída pelos próprios escravos, 
		que tinham por Anastácia um profundo respeito, pois apesar dos 
		sofrimentos nunca deixou de ajudar com conselhos e no que fosse possível 
		seus irmãos de cativeiro. 
		
		Esta é a história e morte de Anastácia, a 
		princesa negra de olhos azuis, que o Grêmio Recreativo e Escola de Samba 
		Ermelinense vem, com muito orgulho, mostrar na avenida para o carnaval 
		de 1999. 
		   |