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		Situado no Estado de São Paulo, o Rio 
		Tietê nasce no Município de Salesópolis, Serra do Mar e corre pelo 
		estado de São Paulo, passa por dezenas de cidades atravessa todo o 
		estado de leste para oeste até despejar suas águas no Rio Paraná, divisa 
		dos dois estados. O surgimento de cidades em suas margens deveu-se à 
		ação dos bandeirantes que o utilizavam como via de acesso ao sertão. Na 
		cidade de São Paulo foram construídas fortificações nas margens do Tietê 
		pelos bandeirantes. Resquícios de alguns sítios arqueológicos ainda são 
		encontrados em Itaim Paulista, Ermelino Matarazzo, Tatuapé, e zona oeste 
		da cidade. Antes de ser destruído pelos esgotos e atividades fabris, o 
		rio serviu para o recreio da população da cidade que se utilizavam de 
		suas águas como balneário até o final da década de cinqüenta. Muitos 
		clubes de expressão surgiram em suas margens como o Esporte Clube 
		Corinthians que teve seu auge ligado às regatas praticadas no Rio Tietê. 
		Espéria, Tietê são outros clubes que surgiram em função do rio. Além dos 
		esportes, piquenique e banhos o Rio Tietê serviu para a pesca e toda 
		sorte de lazer para os cidadãos. A poluição destruiu qualquer 
		possibilidade de vida do rio no seu percurso por grandes, médias 
		cidades. É hoje o rio mais poluído do Brasil em uma cidade que carece de 
		toda sorte de lazer e até mesmo de exemplo de dignidade. 
		
		
		RIO TIETÊ 
		
		Poema e música de Valionel Tomaz Pigatti (Léo 
		Tomaz) 
		
		"Sou assim não corro para o mar". 
		
		- O Rio Tietê, ao contrário dos demais rios 
		do território brasileiro, corre no sentido contrário ao mar. 
		
		"No meu leito te faço mergulhar". 
		
		- (Barrancas) barrancos, elevações na margem 
		do rio, (umbral) limiar, entrada, soleira da porta. 
		
		"A vontade de ver um pouco mais". 
		
		- O poeta usa barrancas e umbrais para 
		expressar o que é constante na poesia - a intenção de um observador em 
		alcançar maiores distâncias, ultrapassar horizontes, evoluir, melhorar. 
		
		" A mais pura demência fluvial". 
		
		- Nesse verso o poeta expressa a condição em 
		que o Rio Tietê se encontra em nível de poluição e atenção pelos 
		cidadãos que, direta ou indiretamente, são responsáveis pela sua morte. 
		
		"Mesmo assim eu não te quero mal". 
		
		- Transferindo sentimentos humanos ao rio, o 
		poeta eleva-o acima dos cidadãos em relação ao amor e a tolerância pelos 
		que com ele coabitam o território, ao respeito e ao perdão. 
		
		"Fui a porta de entrada dos sertões". 
		
		- A expansão do território brasileiro e da 
		colonização do mesmo deve-se ao Rio Tietê. Os bandeirantes utilizaram o 
		rio para adentrar ao interior já que o mesmo corre no sentido contrário 
		ao mar e tornou-se, portanto, uma grande via de acesso aos sertões. 
		
		"Sobre mim deslizam chatas e monções". 
		
		- Chatas são embarcações utilizadas ainda 
		hoje para transpor o rio de uma margem à outra ou realizar pequenos 
		percursos. Monções, expedições que subiam ou desciam os rios das 
		capitanias de São Paulo e Mato Grosso (séc. XVIII E XIX). 
		
		"Sou revessa, eu caminho contra o mar". 
		
		- Revessa é a água da margem que segue no 
		sentido contrário a correnteza de um rio. Por seguir no sentido 
		contrário dos demais rios, o poeta reforça a idéia colocando o Rio Tietê 
		como uma revessa em relação aos outros. 
		
		"Sou a veia da cidade". 
		
		- É no rio que o corpo social das cidades 
		por onde ele passa se transforma em líquido. A qualidade do corpo social 
		pode ser medida pela qualidade das águas do rio. 
		
		"Deságuo no Paraná". 
		
		- O Rio Tietê deságua no Rio Paraná. 
		
		"Sou paulista e um pouco mais". 
		
		- Por ser um rio que nasce e termina no 
		Estado de São Paulo pode ser considerado um rio paulista. Por desaguar e 
		juntar suas águas às do Rio Paraná, um pouco do Rio Tietê e do que ele 
		recolhe no estado, segue em frente avançando sobre outras fronteiras. 
		
		"Sou as alças de concreto, os pontilhões". 
		
		- A expansão das cidades que nasceram em 
		suas margens cobriu o rio de pontes e viadutos. 
		
		"Sou as margens que separam os corações" 
		
		- Até a década de cinqüenta, em certas 
		áreas como a região de Vila Maria as cheias alagavam boa parte do bairro 
		e aumentavam consideravelmente a distância entre as margens do rio. As 
		pontes começavam e terminavam na água. Os operários que moravam na Vila 
		Maria se deslocavam para trabalhar no Bairro do Belém, do Brás ou do 
		Pari. Muitos não conseguiam pegar um barco para atravessar e tinham que 
		pernoitar distante de suas casas e famílias. 
		
		Existem outras localidades pelo interior 
		em que o Rio Tietê pe bastante largo. No verso há também o sentido 
		simbólico da despedida ou do amor impossível. 
		
		"Uma cidade, uma aldeia, solidão, 
		cachoeira, corredeira, aluvião". 
		
		- Manifestações sociais e manifestações 
		naturais ao longo do percurso do Rio Tietê. 
		
		"Sou pintado no sonho do pescador". 
		
		- O pintado, entre outros, foi um peixe 
		muito comum nas águas do Rio Tietê. Em algumas cidades, restaurantes se 
		colocavam em suas margens e ofereciam peixes frescos pescados ali mesmo, 
		especialmente o Pintado. 
		
		"Com o poeta eu divido a minha dor". 
		
		- O sofrimento do rio moribundo é dividido 
		com o poeta. 
		
		"Uma história de cegueira e paixão" 
		
		- O Rio Tietê tem uma longa história de 
		projetos para recuperá-lo. Porém, como em outras atividades, o dinheiro 
		para os trabalhos de recuperação quase nunca chegam às margens do rio. A 
		recuperação do Rio Tietê tem servido para justificar a corrupção e 
		gastos inadequados do dinheiro público. 
		
		"Sou o espelho que assusta o cidadão". 
		
		- O espelho d'água do Rio Tietê reflete a 
		miséria, o atraso e o subdesenvolvimento da sociedade paulista e 
		brasileira. Ao se identificar com o rio e se enxergar nele o poeta se 
		assusta porque também é parte daquilo, porque também é responsável por 
		aquilo. 
		
		"Sou revessa eu caminho contra o mar, 
		
		Sou a veia da cidade, deságuo no Paraná, 
		
		Sou paulista e um pouco mais..." 
		
		Valionel Tomaz Pigatti (Léo Tomaz) 
		
		São Paulo, novembro de 1999 
		
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