
Argumento
Há 100 anos, no carnaval de 1922, Os Batutas desembarcavam na cidade luz, capital cultural do ocidente para uma temporada de seis meses. Era a primeira vez em que músicas genuinamente brasileiras seriam apresentadas fora do país.
Os Batutas foram criados em 1919 e ficaram conhecidos por suas apresentações na sala de espera do Cine Palais, na Cinelândia, Rio de Janeiro. Há 100 anos, o mundo recém-saído da pandemia de gripe, precisava recuperar o público de cinema, depois de um período de isolamento social. Assim, muitos cinemas passaram a oferecer apresentações de música. No caso do Cine Palais, o sucesso do grupo musical contratado começou a superar a programação do cinema.
Mas, quem eram Os Batutas? Em 1919, o grupo inicialmente tinha oito músicos e o nome de Oito Batutas. Embarcaram para Paris, em 1922, sete músicos: o fundador, Pixinguinha, seu irmão, o violonista e pianista China, o violonista Donga, o cantor José Monteiro, o pandeirista Feniano, o cavaquinhista Nelson dos Santos e José Alves no bandolim.
A turnê de Os Batutas em Paris foi cercada de polêmicas no Brasil. Naquela época, tentava-se produzir uma imagem do país e uma identidade nacional branca, segundo o referencial europeu. Assim, as manifestações populares de origem negra ou indígena eram excluídas, ou vistas como inferiores.
No ano das comemorações do Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, marco da mudança de paradigma e da busca da produção e do reconhecimento de uma arte genuinamente brasileira, trazemos a lembrança de Os Batutas.
A Semana de Arte Moderna - 11 a 18 de fevereiro - e a chegada de Os Batutas a Paris aconteceram na mesma semana, do mês do carnaval, em 1922. Depois desses eventos a arte brasileira nunca mais foi a mesma. O samba e outras manifestações afro-brasileiras passaram a ser símbolo da brasilidade. Pixinguinha, Alfredo da Rocha Vianna Filho, mentor e diretor musical de Os Batutas, é reconhecido como um dos maiores compositores da música brasileira.
Em Paris, os músicos tiveram contato com grupos de jazz dos Estados Unidos e músicos cubanos, entre outras manifestações culturais. Nesse intercâmbio, o grupo incorporou outros instrumentos como saxofone, clarinetes e trompetes, além de outros ritmos. da música negra praticada na américa ao seu repertório.
Assim, neste carnaval, lembraremos deste importante acontecimento da história da música brasileira, e da música popular mundial, afinal, a música pop de Pixinguinha à Michael Jackson, é negra.
Sinopse
Em fevereiro de 1922 o brasil viveu um carnaval diferente. A Semana de Arte Moderna tinha a prerrogativa de inaugurar uma cultura genuinamente brasileira. O carnaval de 1922 foi o Carnaval da Antropofagia. Uma das manifestações populares mais retrata- das pelos pintores modernos foi o nascente gênero musical samba e os modernos sambistas.
Os jornais anunciam, Extra! Extra!!, tem atração antes do filme no Cine Palais. Os Batutas, são a atração. E são a atração principal, o filme é secundário.
O sucesso é tamanho a ponto do grupo partir em turnê internacional. O destino é Paris, a capital da cultura ocidental. A viagem de navio atravessa o Atlântico, oceano onde séculos antes os ancestrais negros traziam as bases dessa cultura que agora embarcava com destino ao velho mundo. A música negra transita no Atlântico. Se a música pop internacional é negra, o navio é o percursor do long play.
Os jornais parisienses anunciam a mais nova atração: Les Batutas se apresentarão no Cabaret Sheherazad, le palais de la danse. A capital cultural queria se alimentar da nova cultura proveniente da América.
No Brasil, embora não fosse missão oficial, a turnê dos Batutas escandalizava a elite retrógrada que mimetizava a cultura europeia. Era a white face: mascarar, desprezar, depreciar os fundamentos negro e indígena da cultura brasileira.
E os batutas eram tudo que essa elite queria negar. Apresentavam um repertório variado representativo da diversidade regional brasileira, que ia do caipira ao urbano, do interiorano ao citadino, da moda ao choro. Esse variado repertorio era também materializado nas vestimentas do grupo. Os Batutas vestiam-se de caipira, de índio e de terno.
A estadia em Paris foi um intercambio onde os Batutas puderam conhecer mais a fundo outras expressões negras da América, dado o seu contato com músicos cubanos e estadunidenses. Desses contatos, o grupo incorporou instrumentos de sopro como saxofones e trompetes, consolidando a imagem mais difundida do grupo, assemelhada às jazz band.
Se partiram no carnaval, o retorno dos Batutas se dá ao tempo das comemorações do Centenário da Independência do Brasil. O grupo sintetiza, portanto, a independência cultural do Brasil, 100 depois da emancipação política.
|