Antônio Gonçalves da Silva, nasceu no sítio Serra de Santana, pequena propriedade rural, no distante município de Assaré, Sul do Ceará, no dia 05 de março de 1909. O segundo dos cinco filhos de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva, uma família humilde que vivia da agricultura de subsistência.

Antônio, perdeu a visão do olho direito em consequência do sarampo aos 6 anos de idade, aos oito anos, fica órfão de pai, tendo que trabalhar no cultivo da terra ao lado do irmão mais velho, para ajudar a sustentar a família.
 
Com a idade de 12 anos, frequentou sua primeira e única escola na vida por apenas quatro meses, aprendendo um pouco de leitura e escrita, logo se apaixonou pela poesia. No ano seguinte, aos 13 anos, começou a fazer pequenos versos e aos 16,comprou uma viola e começou a fazer repentes que apresentava para a família e amigos e, posteriormente, nas feiras locais e ocasiões importantes.
 
Por volta dos vinte anos, viajou para o Pará em companhia de José Alexandre Montoril, um parente que lá morava, ao chegar, foi apresentado ao intelectual jornalista e romancista José Carvalho de Brito, que publicou seus poemas no Correio do Ceará, levando – o também para apresentações na Rádio Araripe.

O Jornalista, comparou a poesia de Antônio Gonçalves, com a beleza do canto da Patativa, uma ave nativa da Chapada do Araripe, e adicionou ainda ao pseudônimo, o nome da cidade natal de Antônio, como se fazia com os trovadores da época medieval. Surgia, então, Patativa do Assaré.
Patativa passou cinco meses se apresentando em companhia dos cantadores locais.

Em uma de suas muitas apresentações na Rádio Araripe, Patativa é ouvido pelo filólogo José Arraes de Alencar que, convencido de seu potencial, lhe dá o apoio e o incentivo para a publicação de seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, de 1956.
 
Projetou-se nacionalmente com o poema "Triste Partida", em 1964, uma toada de retirante que foi musicada e gravada por Luiz Gonzaga, que impressionado com aqueles versos que retratavam as agruras do nordestino diante da seca, e abandonava a sua terra natal, decidiu musicá-los e, sua gravação, em 1965, levou o nome do poeta ao conhecimento nacional.
 
“Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai”
 
Casou-se, em 1936, comBelarminda Paes Cidrão, aD. Belinha, com quem conviveu durante 56 anos e teve 9 filhos, Patativa, nunca deixou as origens, e mesmo morando longe dos grandes centros urbanos, estava sempre atento com os fatos políticos do país, também incluindo a política como tema de sua obra. Durante o regime militar, chegou a ser perseguido por criticar os militares. Participou da campanha das Diretas Já, e em 1984 publicou o poema "Inleição Direta 84".
 
“Bom camponês e operaro
A vida tá de amargá
O nosso estado precaro
Não há quem possa aguentá
Neste espaço dos vinte ano
Que a gente entrou pelo cano
A confusão tá compreta
Mode a coisa miorá
Nós vamo bradá e gritá
Pela inleição direta”
 
Poeta e repentista brasileiro, tendo sua obra publicada em quatro livros de poesia, diversos folhetos de cordel, poemas lançados em diversos jornais e revistas, lançou dois LPs, e tem diversos poemas gravados por Pena Branca e Xavantinho, Fagner, e por compositores mais jovens, que reconhecem sua indiscutível universalidade. Patativa do Assaré, com a sua linguagem simples e extremamente poética, retratando a vida sofrida do povo do sertão,firmou-se como um dos principais nomes da arte popular nordestina do século XXcompondo em verso e prosa os contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza, como mostra seu poema “A festa da Natureza“:
 
“Chegando o tempo do inverno,
Tudo é amoroso e terno,
Sentindo o Pai Eterno
Sua bondade sem fim.
O nosso sertão amado,
Estrumicado e pelado,
Fica logo transformado
No mais bonito jardim. ”
 
Embora tenha pouco frequentado a escola, Patativa sabia escrever versos complexos, criou versos nos moldes camonianos, inclusive sonetos na forma clássica, composta por duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos, todos decassílabos. Para a poesia que ele denominava de “matuta”, compunha uma poesia de rima e métrica populares, como a décima e a sextilha nordestina, o poema composto por seis versos.

Patativa do Assaré transformou as dificuldades e sofrimentos em uma vasta obra de rara beleza, obtendo popularidade a nível nacional e internacional, com seus livros publicados em diversos idiomas, inclusive, sendo sua obra, objeto de estudos na conceituada Sorbonne, na Cadeira de Literatura Popular Universal.

Patativa do Assaré, obteve diversas premiações, títulos e homenagens (tendo sido nomeado por cinco vezes Doutor Honoris Causa). Patativa ainda inspira escritores e também os músicos, principalmente os cantadores do Nordeste, tendo como característica principal a oralidade, o grande poeta transferia as palavras para o papel exatamente como era falada pelo homem simples.
 
De origem humilde, mesmo ganhando notoriedade, Patativa nunca deixou a sua terra natal nem abandonou a lida na agricultura, levando uma vida inteira enobrecendo de forma iletrada o seu chão, sendo reconhecido e reverenciado com o poder da palavra cantando em verso e prosa a beleza e as mazelas do sertão nordestino para o mundo.