
...Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e a avenida São João
Caetano Veloso
Apresentação
Uma selva de pedra que engole sonhos, desperta medos e fantasia ilusões tem em sua voz os ecos daqueles que contam, cantam, narram, vivem sua história...
A cidade que aprendeu na dor a poesia dos seus traços concretos e que cresceu sem perceber que já era grande, cantada por filhos do seu chão e imortalizada pelo filho do coração, entoada em cada nota musical, assim como tantas canções que te exaltaram…
Hoje a Águia te exalta para falar de boêmia, de música e magia, tendo na esquina mais famosa do Brasil o palco de tantas alegrias.
São ecos ouvidos por diversas pessoas, dos mais atentos aos que apenas estão de passagem, nas linhas melódicas da sublime magia de um samba enredo voltamos no tempo para entender o que ele nos deixou de herança...
A Nenê de Vila Matilde escola de samba de raiz paulistana e berço de uma corrente cultural vem em forma de canção embarcar num sonho dourado para tingir o acinzentado das encruzas da metrópole que não parou para enxergar o que era nítido a tantos olhares...
Olhares inebriantes de uma metrópole que está em constante evolução, através da famosa esquina da Ipiranga com a Avenida São João. Nosso desfile irá em três setores mostrar a relação da Nenê de Vila Matilde com a cidade de São Paulo, em especial com o centro da capital fazendo uma ligação com a alma cultural e artística da esquina que se tornou ponto de encontro de artistas, diferentes tribos e boêmios.
Abrindo os caminhos da arte, Exu, o dono da rua, nos leva a viajar pelas "Encruzas: Nenê de corpo e alma no coração de São Paulo”.
Desenvolvimento
A alma encantada da rua – “a rua ganha vida Ecos da alma e do povo”.
Laroyê, Exu! de tantas avenidas, de tantas encruzilhadas abrindo caminhos e fazendo a arte e a magia se encontrar com a rua colorindo as linhas concretas de uma cidade acinzentada, o povo da rua nos guarda para outra vez brilhar no Anhembi.
A Nenê é voz do povo, da arte, do samba e do carnaval, uma escola de samba que carrega a essência de seu mestre trazendo a águia em sua bandeira, símbolo da imponência de sua história, que nesse momento abraça a cidade cosmopolita de traços únicos, que a cada esquina ganha vida e a cada noite se deixa engalanar por ecos de suas intensas histórias.
A Avenida São João foi palco do carnaval de São Paulo entre a década de 60 e 70 e a Nenê sob o manto azul e branco, pintou as ruas com suas cores, “onde lhe deram a coroa de rei”, brilhando nos desfiles da Avenida São João com uma tríplice coroa (1968,1969,1970), a mais paulistana das escolas sagrou-se a primeira campeã do palco mais romântico do nosso carnaval.
Com histórias fascinantes e enredos culturais a Nenê de Vila Matilde de corpo e alma paulistana em 1970 conquistou o título exaltando a fascinante “Pauliceia Desvairada”.
Uma cidade que tem nas suas ruas e avenidas a história efervescente de uma romântica capital, histórias que nascem com o cair da tarde e a chegada das luzes artificiais vindas dos postes que enfeitam a cidade desde a década de 20, se confunde ao cenário dessa selva de pedra, até mesmo quando nas frias madrugadas as luzes brilhavam em meio a névoa, assim a São Paulo à Francesa emocionava o olhar inebriante dos saudosos corações.
Nossa águia se rende ao fascínio desta “Belle Époque” e em forma de canção traz a nostalgia carregada de emoção, lembrando de um tempo que não volta mais, o bonde que outrora circulava pelo centro já não trafega pelas ruas e avenidas da cidade e assim vemos as marcas do tempo, substituindo os signos de uma era de ouro.
Mas a São Paulo de tantas poesias, de versos, rimas e prosas ritmadas é um eterno convite para amar. Olhar para as ruas da cidade e esculta-las como um corpo vivo, onde cada esquina carrega uma história de encontros e celebrações é olhar para a vida em movimento e deixar que novas histórias sejam criadas e compartilhadas, nas ruas da cidade não se vê mais como em antes a criança a se lambuzar, os casais a se encontrar, o boêmio a celebrar.
Há quem hoje em dia duvide que as violas dos poetas seresteiros vindos da praça da República tinham o poder para inspirar casais apaixonados que namoravam sob o brilho do luar.
Há quem duvide que esse cenário teve poder para conquistar os olhos de quem ali passava, mas quem conheceu a Cinelândia Paulistana pode afirmar que cidade nos tempos áureos viu o encontro da a elegância, do requinte com o fascínio.
Eis uma nostálgica visão desta cidade, pode duvidar, mas São Paulo consegue nos embriagar com suas nuances e com jeito único de fascinar.
“Tão feia e tão bela Deus abençoou
Operários, malandros e artistas
Teu contraste eu vi e venci”
São ecos do passado que ressoam até hoje, e que os mais atentos ainda podem perceber... Por suas encruzas as damas da noite e os donos da madrugada se encontram nas ruas e avenidas da cidade num ritmo frenético e intenso que faz das calçadas icônicas do centro da cidade de pedrinhas bicolor, cenário onde a boêmia se torna companheira e palco de inspiração dos malandros, “Salve a malandragem, salve Zé!”.
A noite tem seus contrastes e as ruas se torna abrigo para o alento dos perdidos no tempo, o lixo em contraste com luxo, os dois lados da cidade cosmopolita se cruzam em um choque de realidade fazendo de São Paulo, a mais intensas das cidades.
“Porque és o avesso, do avesso, do avesso...”
Na esquina onde tudo acontece - a cidade é eternizada.
Peculiar e singular ao mesmo tempo ampla e plural, a cidade de São Paulo é isso, um verdadeiro caldeirão cultural. Nesse cenário que surgem dois símbolos imortais: as avenidas Ipiranga e a São João, cruzamento que reflete o olhar da cidade, uma esquina musical, pois nela um bar se tornou o encontro das gerações, se tornando ícone da vida noturna da capital, o “Brahma” nasce um ano antes da Nenê e quis o destino que quase 80 anos depois as duas almas paulistanas se encontrassem para celebrar a boemia da cidade.
Num registro de um Lambe Lambe, no clique de uma foto, do engraxate na porta do bar, dos poetas eternizados, o icônico lugar recebeu o legado das casas ancestrais da noite paulistana do fim do século XIX como o Cassino Paulista e o Teatro Bijou, preservando e valorizando as tradições culturais herdadas, mantendo o DNA vanguardista do local.
As avenidas Ipiranga e São João seriam apenas mais uma das milhares avenidas que existem na cidade se não tivesse em sua história um cruzamento recheado de romantismo, boêmia, prosa e música.
Caetano e “Sampa” é um encontro que atravessa gerações, que revive um tempo que jamais voltará, mas que ao mesmo instante parece presente em nosso dia-dia.
Essas avenidas se encontram, mas cada uma por si só tem sua história...
Entre a famosa esquina ou na praça ao redor era comum ver Adoniran por ali, pra variar deu jeito de colocar a avenida São João em mais uma das suas canções, “Iracema meu grande amor”, como não se apaixonar pela música e por essa cidade que insiste em nos encantar.
Na música “Ronda” do poeta Paulo Vanzolini, a noite é protagonista da canção onde o seu amor está a sua procura em meio a tantos olhares numa mesa de bar ou jogando bilhar, era a São João o reduto da sua inspiração por isso que o poeta a eternizou.
“Das luzes, da ribalta... Teu matiz”.
Um olhar multicultural de São Paulo.
Em São Paulo a gigante de pedra se tornou berço de paixões e amores, se rendeu a boêmia e abraçou o mundo em seu coração sob um olhar multicultural.
Nos palcos improvisados das calçadas paulistanas é possível afirmar que a música pulsa em cada canto dessa cidade, “existe amor em SP, sim!”. Existe na dura poesia concreta de tuas esquinas, um sentimento incontido.
No compasso apressado das ruas da cidade a arte emoldura os traços dessa metrópole que não para, subindo pela São João é comum ver as tribos das mais variadas faces se encontrarem na famosa esquina para celebrar a diversidade cultural dessa cidade.
Entre tantas emoções nessa esquina onde tudo acontece, a cidade jamais adormece, sem esquecer das longas temporadas no famoso bar tornando-se palco de artistas imortais, como Demônios da garoa, Cauby Peixoto, Ângela Maria fazendo de São Paulo a “Pauliceia Musicada” que se engrandece mais uma vez no palco do carnaval, uma ode ao encontro da boêmia e da música que abraça a alma Paulistana.
“Me apaixonei pela terra da garoa”
Se um poeta condenou a cidade a túmulo do samba, outros poetas te exaltaram como celeiro de bambas, São Paulo que nos acolheu tão bem tem hoje a exaltação que merece.
“E a Águia Vem deslumbrar esse cenário trazendo uma cidade em poesia” no samba a emoção do sentimento que pulsa mais forte entre a Ipiranga e a avenida São João que nas noites de carnaval se transporta para o Anhembi e assiste de camarote nossa escola te reverenciar.
Por fim, Exu encontra com um ser de luz, retinto e encantado, um verdadeiro regente quilombola na selva de pedra que é São Paulo, nesta festa popular o seu quilombo do lado leste reverencia o coração pulsante da cidade que renasce nos versos da canção e o bar que acolhe os artistas em uma só paixão.
A Ipiranga e a São João hoje cruzam o Anhembi, no palco do samba o mundo se encontra em Sampa e convida todos a sorrir, como se fala no bar: sejam mais que clientes, sejam amigos e se permitam a sonhar pelas “encruzas” da vida, pois neste Carnaval a Nenê está de corpo e alma no coração de São Paulo.
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