
África distante...
Em meio a girafas, elefantes, zebras e leões, a linda paisagem da terra africana, era colorida pelas belas aquarelas, pintadas pelo sol e pelo luar. No africano continente gente negra de beleza rara, canta e dança demonstrando todo prazer, no alegre sorriso da liberdade. Entre belos animais, paisagens coloridas, e o canto e a dança de um povo exuberante, vivia um rei negro todo enfeitado com dourados adereços. Seu nome era "Galanga". Era rei do Congo, República do Zaire. Era um negro sábio, adornado em toda sua realeza por requintadas joias de dourado efeito seu povo o adorava por todos seus méritos e poderes reais. Era, portanto, um rei louvado pelos seus súditos. Principalmente pelo seu caráter justo e humanitário.
Entretanto, já sentia-se bem longe o sopro de um vento traiçoeiro vindo do abanar das velas de um navio atroz, comandado por homens brancos e malvados. Mas o rei era bom, humano e justo. Recebeu aos homens brancos com danças, cantos, frutas e de toda sorte de hospitalidade. Todavia, após tanta festança por parte do rei e seus súditos, e apesar de tanta comilança por parte dos homens brancos traiçoeiros, esses mesmos homens, acabam com toda alegria e como diz o ditado: cospem no prato que comeram. Num tremendo ato de traição, gerando total agonia, prendem os súditos negros e seu rei com cruéis correntes, deixando o céu escuro envolto pelas nuvens da traição e desumanidade. No navio negreiro da traição os, belos e alegres africanos, se tornam pessoas tristes e sofridas presas pela corrente da injustiça e do preconceito. Envolto, entretanto, nesse cenário de dor e melancolia, o rei negro Galanga, perdia os poderes, mas não perdia a realeza. Em sua alma permanecia sempre alerta a esperança de melhores dias, e também o ideal de liberdade para si e para seus súditos que o acompanhavam na viagem atroz.
Entretanto, nos mares nunca dantes navegados, o navio negreiro da tração continuava navegando. E sem mais contratempos, ele chega na Terra de Santa Cruz. Sua tripulação sem direito de defesa algum e a quem recorrer, é escravizada e vendida em mercados. A desolação é total. O rei africano Galanga, foi um dos primeiros a ser comprado e enviado para Minas Gerais, ganhando o nome de Francisco ou Chico-Rei o nobre escravo. E, sem mais demora o colocaram imediatamente para trabalhar em uma das minas. No garimpo do ouro a bateia de Chico-Rei, com suas mãos fortes, agitava-se sem cessar como se fosse máquina. Pepitas de ouro saltavam em todas as bateias. Seus patrões brancos ficavam alvoroçados com tanto ouro e riqueza. O local de tanta euforia e riqueza era Vila Rica hoje Ouro Preto, ou mais especificamente a Mina da Encardideira, de propriedade do major augusto, senhor do lote de escravos do qual pertencia Chico-Rei. Contudo, apesar de escravo Chico-Rei, foi logo se destacando como um grande líder. De maneira política e diplomática como um grande líder, planeja com astúcia e inteligência entre seus irmãos negros, a camuflagem, de porções de ouro, escondidas nas carapinhas dos cabelos. E assim foi feito, diariamente porções de ouro escondidas nas carapinhas, eram guardadas.
Com o fruto desse ouro, os escravos juntamente com chico-rei, construíram a Igreja de Santa Efigênia, a fim de que pudessem, não só dar um testemunho de fé, como também se reunir para tratar de outras atitudes. O tempo, todavia, foi passando. A Mina da Encardideira, já não rendia os mesmos lucros. Tornou-se uma mina decadente. Major Augusto, que muito respeitava Chico-Rei, vende-lhe a mina por poucas moedas. Nas mãos agora de Chico-Rei e seus súditos. A Mina da Encardideira volta a ser o que era. O nosso rei negro tendo se alforriado com as primeiras pepitas das carapinhas, usa parte do lucro no novo crescimento da mina para alforriar seus súditos que juntos com ele se tornaram escravos, ficando dessa forma, conhecido como rei dos escravos. Entretanto não apenas alforriou escravos, com o ouro de sua Mina da Encardideira, montou cooperativas, chegando a conseguir independência financeira. Portanto, agora, rico e com todas as características de um rei que lhe eram peculiares, forma um Estado em Minas Gerais no dia 6 de janeiro. Evento esse que foi comemorado com o Chico-Rei, a rainha, seus súditos e outros tantos escravos alforriados. Festa essa batizada como "festa do reisado". Festa essa que até hoje, é comemorada e respeitada pelo folclore brasileiro.
Contudo, o rei de Portugal temendo a sorte com o crescimento financeiro e de liderança de Chico-Rei, baixa um decreto proibindo a alforria. Mas, a esperança da liberdade de seu povo, nunca se afastou de sua mente. Assim foi que o rei negro, Chico-Rei, sob o sol de esperança da liberdade, trabalhou incansavelmente. E assim foram dias e dias à custa de muito trabalho, acumulando soldo para libertação de seus irmãos restantes, foi quando ao som dos tambores, da dança das mucamas, dos príncipes, dos macotas, do chico-rei, e da rainha, foram em cortejo até a praça principal, em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde os senhores brancos recebem o pagamento em ouro e soltam os escravos restantes. Nascia dessa forma outra das mais belas expressões do folclore brasileiro, de origem africana, "o cortejo do maracatu".
Mas, o tempo não para. Chega o ano de 1888 com um relevante fato histórico, a libertação dos escravos tão almejada por Chico-Rei. Foi quando o jovem Giovani, atual morador da casa do Major Augusto, encontrou a Mina da Encardideira, batizando-a com o nome de mina de Chico-Rel. O negro soberano, generoso e heroico, que venceu o destino, conquistou a liberdade, e concorreu com o melhor de seu esforço, para a grandeza e a prosperidade da boa terra que o acolheu, provando uma vez mais: "quem foi rei nunca perde a majestade".
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